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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

15 - Os Principais Intelectuais do Brasil: Filósofos, Sociólogos, Psicanalistas, Históriadores

Contardo Calligaris
Contardo Calligaris é psicanalista, doutor em psicologia clínica (Université de Provence) e colunista da Folha de S.Paulo. Italiano, hoje vive e clinica entre Nova York e São Paulo. Foi professor de estudos culturais na New School de Nova York e professor convidado de antropologia médica na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Também faz parte do corpo docente do Institute for the Study of Violence, em Boston. Além de escritos clínicos, seus livros em português são "Crônicas do Individualismo Cotidiano" (Ática, 1996), "Hello Brasil!" (Escuta, 2000 [6a ed.]) e "A Adolescência" (série "Folha Explica", Publifolha, 2001). Tem também vários textos publicados em revistas e antologias, entre elas "Ilha Deserta - Livros" (Publifolha, 2003).

Demétrio Magnoli
Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em geografia humana pela USP, integra o Grupo de Análises de Conjuntura Internacional da USP, é colunista de “O Estado de S. Paulo” e “O Globo” e autor do livro Uma gota de sangue – história do pensamento racial (Contexto, SP, 2009).

Flávio Gikovate
Flávio Gikovate é médico-psiquiatra formado pela USP em 1966. Trabalha com psicoterapia breve, tendo atendido mais de nove mil pacientes. É conferencista e autor consagrado, com várias obras publicadas – inclusive no exterior –, que somam quase 1 milhão de livros vendidos.

Frank Usarski
Frank Usarski é doutor, com tese sobre os mecanismos e motivos da estigmatização pública de novos movimentos religiosos na Alemanha Ocidental e possui pós-doutorado na área de Ciência da Religião pela Universidade de Hannover, na Alemanha, sobre o papel das religiões nas Exposições Mundiais entre 1851 e 1900. Desde sua chegada ao Brasil em 1998, faz parte do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Em 2009, obteve o título de Livre Docente na área de Ciências da Religião pela PUC-SP. Entre suas atividades acadêmicas, destacam-se a pesquisa, o ensino e diversas publicações sobre as religiões orientais, bem como sobre a história e o perfil atual da ciência da religião. Além disso, é fundador e coordenador da Revista de Estudos da Religião – REVER – e líder do grupo de pesquisa Centro de Estudos de Religiões Alternativas de Origem Oriental no Brasil – CERAL.

Jorge Forbes
Jorge Forbes é psicanalista e médico psiquiatra, em São Paulo. Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo - USP - Faculdade de Medicina (Neurologia). Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Mestre em Psicanálise pela Universidade Paris VIII. A.M.E. - Analista Membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Escola Europeia de Psicanálise. Membro da Associação Mundial de Psicanálise - AMP. É um dos principais introdutores do ensino de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981. Teve participação fundamental na criação da Escola Brasileira de Psicanálise, da qual foi o primeiro diretor-geral. Preside o Instituto da Psicanálise Lacaniana - IPLA e o Projeto Análise (www.projetoanalise.com.br). Dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano - USP.

Leandro karnal
Leandro Karnal é historiador. Atualmente ministra aulas na UNICAMP na área de História da América e tem publicações sobre ensino de História. É autor de Teatro da Fé (Editora Hucitec); História na Sala de Aula (Editora Contexto) e Estados Unidos - a formação da nação (Editora Contexto). Possui graduação em Historia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1985) e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo(1994). Foi também curador de diversas exposições, como A Escrita da Memória, em São Paulo. Colaborou na elaboração curatorial de museus, como o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé é filósofo, pós-doutor pela Universidade de Tel Aviv, professor da pós-graduação em ciências da religião da PUCSP, da Faculdade de Comunicação da FAAP e professor convidado da pós-graduação em ensino das ciências da saúde da Escola Paulista de Medicina, UNIFESP; colunista da Folha de S Paulo; autor, entre outros títulos, Crítica e Profecia, filosofia da religião em Dostoeivski, ed. 34, O Homem Insuficiente, Edusp, O Conhecimento na Desgraça, Edusp, e Do Pensamento no Deserto, ensaios de filosofia, teologia e literatura, Edusp.

Marco Antonio Villa 
Marco Antonio Villa é um historiador brasileiro. Ele possui mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1989) e doutorado em História Social pela USP (1993). Atualmente é professor da Universidade Federal de São Carlos.

Oswaldo Giacóia Júnior
Oswaldo Giacóia Júnior é um filósofo e professor brasileiro, atualmente livre docente e professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Graduou-se em Direito, no ano de1976, pela Universidade de São Paulo, e em Filosofia, no mesmo ano, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tem seu mestrado em Filosofia, em 1983 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (com tema de título "Discurso Filosófico e Discursos Científicos", sob orientação de Bento Prado Jr.), e doutorado em Filosofia, no ano de1988 pela Universidade Livre de Berlim (Freie Universität Berlin), com tema de título "Von der Kuntmetaphysik Zur Genealogie der Moral: wege stege der Kulturphilosophie Nietzsches, e orientação de Reinhart Klemens Maurer. Pós-Doutorado pela também Freie Universität Berlin 1993-1994, pela Universidade de Viena 1997-1998 e Universidade de Lecce 2005-2006.

Renato Janine Ribeiro
Renato Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia Política na USP, é autor de vários livros na sua área, bem como colunista do jornal “Valor econômico”, às segundas-feiras. Lecionou na Universidade de Columbia, em Nova York, e foi diretor da Capes, em Brasília. Entre seus livros, está A etiqueta no antigo regime e O afeto autoritário – televisão, ética, democracia.

Viviane Mosé
Viviane Mosé (Espírito Santo, 16 de janeiro de 1964) é poetisa, filósofa, psicóloga psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre edoutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005 pela editora Civilização Brasileira.

Vladimir Safatle
Professor da Faculdade de Filosofia da USP, é autor do livro "A esquerda que não teme dizer seu nome".


Franklin Leopoldo e Silva
Formado em Filosofia pela USP, onde obteve os títulos de mestre, doutor e de livre-docência. É professor titular aposentado de História da Filosofia Moderna e Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade e, atualmente, é professor visitante da UFSCar.
Especialista em Descartes, Bergson e Sartre, escreveu inúmeros artigos e participou de várias coletâneas.
É autor de O Conhecimento de Si (Casa do Saber/Casa da Palavra, 2011), Felicidade: dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos (Claridade, 2007), Descartes: a metafísica da modernidade (Moderna, 2006), Bergson: intuição e discurso filosófico (Loyola, S/D) e Ética e literatura em Sartre (Edunesp, 2004).



Silvio Donizetti de Oliveira Gallo 
Filósofo anarquista brasileiro, autor de uma série de publicações fundamentais que o tornaram um dos principais expoentes da pedagogia libertária no Brasil. Em 1986 Gallo se formou no curso de Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
Em 1990 tornou-se mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Em 1993 recebe o título de doutor em Educação também pela Universidade Estadual de Campinas.

João Mac Dowell
Doutor em Filosofia, Pontificia Università Gregoriana, Roma, 1970. Professor do Quadro de Mestrado em Filosofia da FAJE.



Danilo Marcondes
Doutor em filosofia pela Universidade de St. Andrew, Grã-Bretanha, é professor titular do Departamento de Filosofia da PUC-Rio (que dirigiu entre 1986 e 1989) e professor adjunto do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense, ministrando cursos sobre filosofia da linguagem e história da filosofia em níveis de graduação e pós-graduação. É também vice-reitor acadêmico da PUC-Rio. Com mais de vinte anos de experiência no magistério, Danilo Marcondes escreveu os livros didáticos Iniciação à história da filosofia (10ª ed. revista 2006, mais de 30.000 exemplares vendidos) e Textos básicos de filosofia (4ª ed. 2005, mais de 16.000 exemplares vendidos). É autor também dos paradidáticos Filosofia analítica (2004) e A pragmática na filosofia contemporânea (2005), publicados na coleção Passo-a-Passo, e co-autor do Dicionário básico de filosofia (com Hilton Japiassú, 4ª ed. atualizada 2006, mais de 30.000 exemplares vendidos), todos publicados por essa editora. Escreveu ainda Language and Action: A Reassessment of Speech Act Theory (Londres, John Benjamins, 1984).

Ernildo Jacob Stein
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1964), graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1965) e doutorado de Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1968). Pós-Doutorado na Universidade de Erlangen-Nürnberg (1969-1972), na Universidade Livre de Berlim (1981), na Universidade de Freiburg (1989), e outros, igualmente na Alemanha. Atualmente é Professor Titular na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde coordena o grupo de pesquisa Linguagem e Hermenêutica, junto ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia - Mestrado e Doutorado. Tem experiência em diversas áreas da Filosofia, com ênfase em Metafísica, História da Filosofia, Epistemologia e Antropologia Filosófica, atuando principalmente nos seguintes temas: pensamento de Martin Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, Direito e questões da cultura.

Emmanuel Carneiro Leão
Possui graduação em - pontificio atheneo antoniano (1959), mestrado em - Albert-Ludwigs-Universität Freiburg (1962) e doutorado em De Universa Philosiphia - Albert-Ludwigs-Universität Freiburg (1963). Professor titular emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor titular da Universidade Gama Filho. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia, ética, verdade, historia e pensamento.

Olgária Matos
Olgária Matos é filósofa. Possui graduação em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP, 1970), mestrado em filosofia pela Université Paris i (Panthéon-sorbonne, 1974) e doutorado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP, 1985). Professora titular do departamento de filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

Roberto Romano
Possui graduação pela Universidade de São Paulo (1973), doutorado em Filosofia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (1978) e pós-doutorado pela Universidade Estadual de Campinas (1991). Atualmente é Professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Filosofia.

Marco Antonio Casanova
Doutor em filosofia pela UFRJ/Universidade de Tübingen, Pós-doutorado – Universidade de Freiburg, Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da UERJ, Presidente da Sociedade Brasileira de Fenomenologia, Autor de O instante extraordinário: Vida, história e valor na obra de Friedrich Nietzsche (2003), Nada a caminho: Impessoalidade, niilismo e técnica no pensamento de Martin Heidegger (2006), Compreender Heidegger (2009).


Antonio Joaquim Severino
Professor titular, aposentado, de Filosofia da Educação na Faculdade de Educação da USP, ora atuando como docente colaborador. Licenciou-se em Filosofia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, em 1964. Na PUCSP, apresentou seu doutorado, defendendo tese sobre o personalismo de Emmamuel Mounier, em 1972. Prestou concurso de Livre Docência em Filosofia da Educação, na Universidade de São Paulo, em 2000. Em 2003, prestou concurso de titularidade. Atualmente integra o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uninove, Universidade Nove de Julho, de São Paulo, onde lidera o Grupo de Pesquisa e Estudo em Filosofia da Educação - GRUPEFE. Dentre suas publicações, destacam-se Metodologia do trabalho científico (Cortez, 1975; 21. ed. 2000); Educação, ideologia e contra-ideologia. (EPU, 1986); Métodos de estudo para o 2o. Grau (Cortez, 1987; 5. ed. 1996); A filosofia no Brasil (ANPOF, 1990); Filosofia (Cortez, 1992; 5. ed. 1999); Filosofia da Educação (FTD, 1995; 2. ed. 1998); A filosofia contemporânea no Brasil: conhecimento, política e educação (Vozes, 1999), Educação, sujeito e história (Olho d´Água, 2002) e vários artigos sobre temas de filosofia da educação. Seus estudos e pesquisas atuais situam-se no âmbito da filosofia e da filosofia da educação, com destaque para as questões relacionadas com a epistemologia da educação e para as temáticas concernentes à educação brasileira e ao pensamento filosófico e sua expressão na cultura brasileira.



segunda-feira, 17 de março de 2014

14 - Antropólogo: Franz Boas




Nascido numa família judaica liberal, seu pai, Meier Boas, era um comerciante de sucesso, e sua mãe, professora de jardim da infância. Ambos os pais de Boas eram influenciados pelo "espírito" da Revolução de 1848 mesmo anos após o seu término. A influência dos princípios políticos de seus pais durante sua infância e adolescência teriam reflexos na formação de suas ideias pioneiras sobre raça e etnicidade.

Sua primeira inserção no campo científico não se deu a partir da Antropologia, mas sim da Física, curso no qual Boas se qualificou como doutor pela a Universidade de Kiel em 1881. Através de sua dissertação de doutorado "Contribuições para o Entendimento da Cor da Água" Boas buscou demonstrar como os domínios da experiencia humana "através dos conceitos de quantidade … não eram aplicáveis". Foi em uma viagem para Baffinland com a intenção de escrever um livro sobre psicofísica, enquanto trabalhava com um grupo de esquimós (inuit) que Boas vivenciou a sua primeira experiência de campo. Tal experiência foi determinante para sua mudança disciplinar e o início de suas reflexões antropológicas.

Em 1887 Boas emigrou para os Estados Unidos, mas somente depois de sua primeira publicação tornar-se-ia referência como antropólogo. Em 1892, tornou-se professor de antropologia na Universidade Clark, em Worcester. Em 1896, foi indicado curador assistente de Etnologia e Somatologia do Museu Americano de História Natural. No mesmo ano, foi nomeado leitor de Antropologia Física da Universidade Columbia, e promovido a professor de Antropologia em 1899. Na época, os vários antropólogos que lecionavam em Columbia distribuíam-se por diferentes departamentos. Quando deixou o Museu de História Natural, Boas negociou com a universidade a reunião desses vários professores em um único departamento, do qual ele próprio seria o responsável. O programa de PhD em antropologia da Universidade Columbia, criado por Boas, seria o primeiro da América.

Diferente dos evolucionistas que dominavam a Antropologia em seu princípio, Boas argumentava que em contraste com o senso comum, raças distintas da caucasiana, "raças como os índios do Peru e da América Central haviam desenvolvido civilizações similares àquelas nas quais as civilizações européias tinham sua origem". Embora seus escritos ainda reflitam um certo racismo inerente ao seu tempo, Boas foi pioneiro nas idéias de igualdade racial que resultaram nos estudos de Antropologia Cultural da atualidade. Como orientador de antropólogos notáveis como Margaret Mead, Melville Herkovits, Ruth Benedict, Boas ficou conhecido posteriormente como pai da Antropologia contemporânea. Influenciou profundamente o escritor brasileiro Gilberto Freyre, autor de obras marcantes sobre a formação social brasileira.

De todas as suas idéias, a formulação do conceito de etnocentrismo e a necessidade de estudar cada cultura singularmente por seus próprios termos exercem, ainda nos dias de hoje, uma enorme influência nos estudos antropológicos. Em sua obra, Boas se contrapôs aos evolucionistas, que compreendiam as culturas das sociedades não-caucasianas como inferiores. É através de seus estudos que a idéia de uma escala evolutiva das sociedades partindo de agrupamento de homens "selvagens" ou "naturais" e chegando as "sociedades civilizadas" européias vai sendo gradualmente abandonada pelos estudos antropológicos.

…Dois índios particularmente responsáveis foram enviados pelo conselho dos anciões a visitar um grupo que quase uma geração antes havia se separado para caçar em uma região pouco conhecida e mantivera só contato esporádico com a tribo. À volta, relataram sobre seu encontro com os representantes do grupo: tinham constituído uma espécie de novo conselho dos anciões e deram as informações desejadas sobre a região. Os dois emissários expuseram "verbatim" (literalmente), o conteúdo das conversas imitou as expressões dos rostos dos interlocutores, que para nós europeus parecem sempre impassíveis, mas das quais os índios detectam as mínimas nuances, salientaram uma sombra de reticência, num determinado momento e contribuíram na análise dos resultados da empresa, realizada pelo conselho: lá devia haver mais facilidade de caça do que os membros do grupo queriam admitir. (FRANZ BOAS, 1890, de uma carta a um amigo na Alemanha, na qual comunicava que decidira dedicar-se exclusivamente à antropologia.)

Contribuição teórica

Franz Boas criticou com veemência os determinismos biológicos e geográficos, além da crença no evolucionismo cultural. Boas apontava que cada cultura é uma unidade integrada, fruto de um desenvolvimento histórico peculiar. Enfatizou a independência dos fenômenos culturais com relação às condições geográficas e aos determinantes biológicos, afirmando que a dinâmica da cultura está na interação entre os indivíduos e sociedade. Dentre suas obras principais, destacam-se: "The Mind of Primitive Man", de 1911 (A Mente do Homem Primitivo), "Primitive Art", de 1927 (Arte Primitiva), e "Race, Language and Culture", 1940 (Raça, Linguagem e Cultura). Além das severas críticas que fez ao método evolucionista, Boas também criticou o hiper-difusionismo e o funcionalismo, ambos em evidência na época.

O evolucionismo buscava leis gerais que regessem toda a humanidade, concebendo uma evolução igual para todas as sociedades. Os fenômenos semelhantes que ocorrem em épocas e lugares diferentes provariam a existência de uma origem comum da humanidade. Boas, pelo contrário, afirmava que esses fenômenos similares poderiam ter se originado por caminhos diversos, e que o mesmo fenômeno tem sentidos variados em cada cultura. Antes de se fazerem suposições, devia-se investigar a fundo as causas dos fenômenos, utilizando-se da investigação histórica, tão defendida por ele. O segundo método, o hiper-difusionismo, atribuia a criatividade a alguns poucos grupos - como egípcios e gregos - que passariam o seu legado para outras culturas. Boas critica ainda o funcionalismo que vê as culturas enquanto meras adaptações do Homem às suas necessidades, naquilo de C. Geertz chamaria de "visão estratigráfica". Isto é, enquanto os funcionalistas vêem a cultura como algo limitado pelo biológico e pelo ambiente. Boas embora reconheça esta limitação, sugere que a cultura pode, por vezes, ultrapassá-las.

Além disso, Boas inaugura o conceito de culturas, no plural, através do particularismo histórico - onde cada cultura tem sua própria história. Segundo o pesquisador teuto-americano todas as culturas são dinâmicas, sofrem mudanças ao longo do tempo. Logo, o objetivo da pesquisa antropológica, para Boas, está em compreender os processos adjacentes aos fenômenos dessas culturas particulares, e qual sentido os membros de uma cultura atribuem às suas práticas. Ao invés de estabelecer leis gerais - como pensavam os evolucionistas -, historiografias da origem - como insistiam os difusionistas - ou listas de objetos com funções correlatas - como queriam os funcionalistas. É importante ressaltar, no entanto, que os evolucionistas não eram necessariamente racistas, mas etnocêntricos, visto que admitiam o "selvagem" como uma etapa inicial rumo ao lugar elevado que a Europa assumia na linha evolutiva.

Citações

"Recebemos uma lista de invenções, instituições e ideias, mas aprendemos pouco ou nada sobre o modo pelo qual o indivíduo vive sob essas instituições, com essas invenções e ideias, assim como não sabemos como suas atividades afetam os grupos culturais dos quais ele participa. As informações sobre esses pontos são extremamente necessárias, pois a dinâmica da vida social só pode ser compreendida com base na reação do indivíduo à cultura na qual vive."

"Até agora temos nos divertido com devaneios mais ou menos engenhosos. O trabalho sólido ainda está todo a frente."

"Na etnologia, tudo é individualidade".

Arte Primitiva, 1927:

"Qualquer pessoa que tenha vivido com tribos primitivas, que tenha partilhado as suas alegrias e tristezas, as suas privações e abundâncias, que veja nelas não apenas objetos de estudo a serem examinados, como células a um microscópio, mas seres humanos pensantes e com sentimentos, concordará que não existe uma ‘mente primitiva’, um modo de pensar ‘mágico’ ou ‘pré-lógico’, mas cada indivíduo numa sociedade ‘primitiva’ é um homem, uma mulher, uma criança da mesma espécie com o mesmo modo de pensar, sentir e agir que qualquer homem, mulher ou criança da nossa sociedade."

"A nossa experiência tradicional ensinou-nos a considerar o curso dos acontecimentos objetivos como o resultado de uma causalidade objetiva e definida. Uma causalidade inexorável que governa este mundo, e o mundo exterior, não pode ser influenciada por condições mentais. (...) Nosso ambiente cultural inculcou-nos este ponto de vista de tal modo que aceitamos como elementar a impossibilidade de os fenômenos materiais, exteriores ao domínio do comportamento humano, poderem ser influenciados por processos mentais, subjetivos. Porém, todo o desejo ardente implica possibilidade de realização (…) que comprovam a fragilidade da nossa pretensão a uma visão racional do mundo."

"Certa vez, numa visita à Colúmbia Britânica comprei a uma mulher já de idade um saco executado num tear, decorado com uma série de losangos e pequenas figuras bordadas em forma de cruz. Após ter perguntado, fiquei a saber que o saco fora comprado a uma tribo vizinha e que a nova proprietária nada sabia do significado original do padrão decorativo (…) À nova proprietária, pareceu-lhe que os losangos se assemelhavam a lagos ligados entre si por um rio. As diferentes cores do losango pareceram-lhe sugestivas das cores dos lagos: um bordo verde, a vegetação da margem; uma área amarelada no interior, as águas pouco profundas; e, um centro azul, as águas profundas. A interpretação não lhe pareceu suficientemente clara e então completou-a bordando pássaros voando em direção aos lagos. Deste modo, deu um maior realismo à sua concepção e tornou-a mais inteligível para os seus companheiros."

"Como em todas as outras questões étnicas, devemos evitar tratar as tribos como unidades padronizadas. As variações individuais, tanto em termos de aparência física como de vida mental, são tão importantes na sociedade primitiva como na nossa sociedade."

"A grande variedade de interpretações para a mesma figura, por um lado, e, por outro, o número de formas através das quais uma mesma ideia ganha expressão, demonstram que (…) existe uma certa associação entre o modelo artístico geral e um determinado número de ideias que são selecionadas de acordo com o uso da tribo e, também, de acordo com o interesse do indivíduo que, no momento, fornece a explicação".
Fonte: Franz_Boas

sábado, 25 de janeiro de 2014

13 - Coleção Os Pensadores em PDF


      A coleção “Os Pensadores” foi uma iniciativa única no Brasil de publicação das obras mais influentes do pensamento ocidental. Foi publicada originalmente pela editora Abril Cultural, na década de 1970. Nas últimas décadas, a Abril Cultural separou-se do grupo Abril, passando então a se chamar Nova Cultural. Atualmente, a coleção Os Pensadores publica obras de referência obrigatória para a grande maioria dos cursos universitários de ciências humanas no Brasil, especialmente os de filosofia. Ao todo, são mais de 50 volumes publicados, dos quais consegui reunir boa parte em arquivo PDF neste post. Baixe a vontade e bons estudos!


11 - Erasmo de Rotterdam
23 - George Berkeley
28 - Georg Hegel
34 - Gottlob Frege
38 – Sigmund Freud
40 - Maurice Merleau-Ponty
41 - Bertrand Russell
42 - Karl Popper
43 - Jean-Paul Sartre
47 - Jürgen Habermas
48 - Claude Lévi-Strauss
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