Hem? Hem? O que mais penso,
testo e explico: todo o mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por
isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer,
desdoidar. Reza é que sara loucura. No geral. Isso é que é a salvação da alma...
Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito todas.
Bebo água do rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão,
católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém,
doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias
é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora,
cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me
refresca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar – o tempo todo. Muita gente
não me aprova, acham que lei de Deus é privilégio, invariável. E eu! Bofe! Detesto!
O que sou? – o que faço, que quero, muito curial. E em cara de todos faço,
executado. Eu? – não tresmalho!
Grande Sertão: Veredas
João Guimarães Rosa