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quarta-feira, 8 de julho de 2015

49 - Livros: Coleção Compreender - Editora Vozes


      Os livros apresentam uma introdução a vida e obra dos principais filósofos.
Todos os livros foram escritos por especialistas.
Editora Vozes





48 - Livros: Coleção Passo-a-Passo Filosofia - Editora Zahar

     Pequenos livros escritos por especialistas oferecem uma visão atualizada e abrangente dos temas. Leitura instrutiva além de prazerosa, os livros contam com cronologia, sugestão de leitura, glossário e seleção de textos.
Editora Zahar





     O Leitor trilha diferentes campos do saber, conhecendo de maneira gradual e interdisciplinar os mais importantes pensadores, ideias e obras.


47 - A Filosofia de Thomas Kuhn



Thomas Samuel Kuhn (18 de Julho 1922 – 17 de Junho 1996) Físico e filósofo da ciência estadunidense.
Seu trabalho incidiu sobre história da ciência e filosofia da ciência, tornando-se um marco no estudo do processo que leva ao desenvolvimento científico.
Thomas Kuhn formou-se em física em 1943, pela Universidade de Harvard. Recebeu desta mesma instituição o grau de Mestre em 1946 e o grau de Doutor em 1949, ambos na área de Física.
Após ter concluído o Doutoramento, Kuhn tornou-se professor em Harvard. Lecionou uma disciplina de Ciências para alunos de Ciências Humanas. A estrutura desta disciplina baseava-se nos casos mais famosos da História da Ciência, pelo que Kuhn foi obrigado a familiarizar-se com este tema. Este fato foi determinante para o desenvolvimento da sua obra.
Em 1956 Kuhn foi lecionar História da ciência na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Tornou-se professor efetivo desta instituição em 1961. Em 1964 tornou-se professor de Filosofia e História das Ciências, na Universidade de Princeton. Em 1971 Kuhn foi lecionar para o MIT, onde permaneceu até terminar a sua carreira acadêmica.
Kuhn morreu em 17 de Junho de 1996, vítima de câncer.
O primeiro livro de Kuhn foi A Revolução Copernicana, publicado em 1957. Mas foi em 1962, com a publicação do livro Estrutura das Revoluções Científicas que Kuhn se tornou conhecido não mais como um físico, mas como um intelectual voltado para a história e a filosofia da ciência.
Em uma entrevista cedida a filosofa italiana Giovanna Borradori, no ano de 1965, em Londres, Thomas Kuhn explica sinteticamente seu percurso acadêmico até a construção deste texto, que se tornaria o referencial de discussão entre os filósofos da ciência. Sua carreira inicia-se como físico e, até a defesa de sua tese de doutorado, tinha tido poucos contatos com a filosofia. Sua justificativa para este pouco contato com a filosofia é fundada principalmente na ocorrência da Segunda Guerra Mundial, pois havia, segundo ele, uma enorme pressão para empreender carreiras científicas e um grande desprezo em relação às matérias humanísticas.
Todavia, foi na Universidade de Harvard, quando teve que preparar um curso de ciências para não cientistas, que pela primeira vez, ele utilizou exemplos históricos de progressos científicos. Dessa experiência, Kuhn percebeu que a o desenvolvimento da ciência, numa perspectiva histórica, era muito diferente da apresentada nos textos de Física ou mesmo de Filosofia da Ciência. O livro Estrutura das Revoluções Científicas foi, então, um texto produzido e direcionado a um público filosófico, mesmo não sendo um livro de filosofia. Isso porque, conforme ele mesmo dizia, criticava o positivismo sem conhecê-lo em profundidade, assim como não se sentia influenciado pelo pragmatismo de William James e John Dewey.
A repercussão do seu livro foi tão grande na comunidade acadêmica que, já na segunda edição, em 1970, Kuhn apresentou um pós-escrito, no qual seus pontos de vista são, em alguma medida, refinados e modificados. E, para responder às acusações de irracionalismo, ele escreve, em 1974, um ensaio intitulado Reconsiderando os paradigmas e, logo depois, desenvolve com maior profundidade as descontinuidades históricas, que foram apresentadas em outro livro chamado Teoria do corpo negro e descontinuidade quântica - 1894-1912, publicado em 1979.
Thomas S. Kuhn ocupou-se principalmente do estudo da história da ciência, no qual mostra um contraste entre duas concepções da ciência:
Por um lado, a ciência é entendida como uma atividade completamente racional e controlada. (PERSPECTIVA FORMALISTA).
Em outro lado, a ciência é entendida como uma atividade concreta que se dá ao longo do tempo e que em cada época histórica apresenta peculiaridades e características próprias. (PERSPECTIVA HISTORICISTA).
Este contraste emerge na obra A Estrutura das Revoluções Científicas, e ocasionou o chamado giro histórico-sociológico da ciência, uma revolução na reflexão acerca da ciência ao considerar próprios da ciência os aspectos históricos e sociológicos que rodeiam a atividade científica, e não só os lógicos e empíricos, como defendia o modelo formalista, o qual estava a ser desafiado pelo enfoque historicista de Kuhn.



46 - Filosofia de Paul Ricoeur



Paul Ricoeur (27 de Fevereiro de 1913 – 20 de Maio de 2005) foi um dos grandes filósofos e pensadores franceses.
Paul Ricoeur nasceu numa família protestante. Órfão de mãe, que morre pouco depois de seu nascimento, perdeu o pai na batalha de Marne, em 1915, e foi criado por sua tia. Em 1936, licenciado em filosofia, criou a revista Être, inspirada nos preceitos de Karl Barth, teólogo cristão suíço. Em 1939, servindo como oficial de reserva, Ricoeur foi preso pelos nazistas e enviado ao campo de Groß Born e depois a Arnswalde, na Pomerânia, atualmente Polônia.
No pós-guerra foi acadêmico na Universidade da Sorbonne. Passou também pelas universidades de Louvaina (Bélgica) e Yale (EUA), onde elaborou uma importante obra de filosofia política. Ricoeur participou em debates sobre linguística, psicanálise, o estruturalismo e a hermenêutica, com um interesse particular pelos textos sagrados do cristianismo.
Ricoeur descreve assim, em 1991, suas raízes filosóficas: “Se reflito, dando um passo para trás de meio século [...], sobre as influências que reconheço ter sofrido, sou grato por ter sido desde o início solicitado por forças contrárias e fidelidades opostas: de uma parte, Gabriel Marcel, ao qual acrescento Emmanuel Mounier; de outra, Edmund Husserl”. Portanto, Ricoeur forma-se em contato com as ideias do existencialismo, do personalismo e da fenomenologia.
Suas obras importantes são: A filosofia da vontade (primeira parte: O voluntário e o involuntário, 1950; segunda parte: Finitude e culpa, 1960, em dois volumes: O homem falível e A simbólica do mal). De 1969 é O conflito das interpretações. Em 1975 apareceu A metáfora viva.
Em O voluntário e o involuntário, Ricoeur dirige a atenção para a relação recíproca entre voluntário e involuntário, assim como esta relação se configura na tríplice dimensão do decidir, do agir e do consentir. Em poucas palavras, necessidades, emoções e hábitos premem sobre o querer, que replica a eles, por meio da escolha, do esforço e do consentimento. Escreve Ricoeur: “Eu suporto este corpo que governo”.
Descendo ainda mais em profundidade no interior da existência humana, Ricoeur vê que o homem concreto é vontade falível e, portanto, capaz de mal. A antropologia de Ricoeur delineia um homem frágil, “desproporcionado”, sempre à beira do abismo entre o bem e o mal.
A fim de entender o mal e a culpa, o filósofo deve ouvir e interpretar os símbolos que representam a confissão que a humanidade fez de suas culpas; ou seja, deve compreender os mitos que veiculam símbolos como a mancha, o pecado, a culpabilidade etc. E, entre esses mitos, central, no pensamento de Ricoeur, é o mito de Adão: a figura de Adão mostra a universalidade do mal enquanto Adão representa toda a humanidade.





45 - Filosofia de Gianni Vattimo




Gianteresio Vattimo (Turim, 4 de janeiro de 1936), filósofo e político italiano, um dos expoentes do pós-modernismo europeu.
Discípulo de Luigi Pareyson, graduou-se em Filosofia, na cidade de Turim, em 1959. Especializou-se em Heidelberg, Alemanha, com Karl Löwith e Hans-Georg Gadamer, cujo pensamento introduziu na Itália. Em 1964, tornou-se professor de Estética na Universidade de Turim e, a partir de 1982, de Filosofia Teorética. Ensinou na condição de professor visitante, em vários universidades dos Estados Unidos.
Nos anos 1950, trabalhou em programas culturais da RAI. É diretor da Rivista di estetica, membro de comissões científicas de vários periódicos italianos e estrangeiros e sócio-correspondente da Academia de Ciência de Turim.
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa das Universidades de La Plata, Palermo e Madrid.
Vattimo se ocupou da ontologia hermenêutica contemporânea, acentuando sua ligação com o niilismo - entendido como enfraquecimento das categorias ontológicas. Assim, contrapõe o pensamento fraco, uma forma particular de niilismo, às diversas formas de pensamento forte, isto é, aquelas baseadas na revelação cristã, no marxismo e outros sistemas ideológicos.
Segundo Vattimo, a partir das filosofias de Nietzsche e principalmente de Heidegger, instaura-se uma crise irreversível nas bases cartesianas e racionalistas do pensamento moderno.
Propõe uma filosofia baseada no enfraquecimento do ser como chave de leitura da pós-modernidade, mas também nas formas de progressiva redução da violência, de passagem a regimes políticos democráticos, de secularização, pluralismo e tolerância, como impulso à emancipação humana e à superação das diferenças sociais.
Sua proposta filosófica é uma resposta à crise das grandes correntes filosóficas dos séculos XIX e XX: o hegelianismo com sua dialética, o marxismo, a fenomenologia, a psicanalise, o estruturalismo.


44 - Filosofia de Ludwig Feuerbach

Feuerbach (1804-1872), iniciador do chamado “naturalismo humanista” ou “humanismo naturalista” no pensamento moderno, que preparou o caminho ao materialismo dialético de Marx, Feuerbach fez parte da “esquerda hegeliana”, da qual o marxismo tomará os seus postulados básicos. Também pode reivindicar uma nova atualidade no pensa mento contemporâneo, principalmente com relação ao existencialismo de esquerda de Sartre e de Camus.

Eis seus dois postulados fundamentais:
1) “O ser enquanto ser é finito”, porque sempre está nos limites do tempo e do espaço concretos, e “onde não há limites, nem tempo, nem necessidades, também não há qualidades, energia, spiritus, fogo, nem amor algum”.
2) A negação de Deus é o fundamento para a afirmação do homem: “Eu nego a Deus”, escreve Feuerbach, isto significa para mim: “Eu nego a negação do homem”.
Entre a imensa obra filosófica deste filósofo de vida discreta, que viveu seus últimos anos na miséria, destacamos suas duas obras principais: A essência do cristianismo (1841), seguida, em 1845, de A essência da religião. Todas as demais obras de caráter filosófico-religioso não são mais do que a ampliação das anteriormente mencionadas. Nessas duas obras expressa a crítica que se deve fazer da religião em geral e do cristianismo em particular, como religião positiva e revelada.
Segundo Feuerbach, no lugar de “Deus” deve-se pôr e escrever “humano”, de forma que a essência divina que se revela na natureza não seja mais do que a sua própria natureza. A natureza, pois, “não é somente o objeto primeiro e originário, senão também o fundo permanente e o fundamental desenvolvimento da religião”. A natureza sensível e concreta é a base do real.
Segundo a crítica de Feuerbach, deve-se fazer descer a religião da teologia à natureza e à antropologia. “O ser absoluto, o Deus do homem, é o ser próprio do homem”. Em consequência, “não foi Deus quem criou o homem, mas foi o homem que criou Deus com a sua própria imaginação, ao unir a especulação à base de abstrações, em oposição aos sentidos”. “Deus é o princípio imaginado ou fantástico da realização total de todas as vontades e desejos humanos.” Daqui o princípio: “Como é o teu coração, assim é o teu Deus”. Tais como são os desejos dos homens, assim são as suas divindades. Acreditar em Deus é “Criar Deus”. A divinização dos homens é o objetivo último da religião.
A crítica ao cristianismo aprofunda a instância antropológica individualista: o cristianismo genuíno é a antítese do paganismo, porque no cristianismo autêntico o indivíduo é somente uma parte do gênero e este se encontra somente na humanidade imediata. A expressão mais clara do gênero e do indivíduo no cristianismo é Cristo: o Deus verdadeiro dos cristãos. Cristo é o modelo, o conceito existente da humanidade, o compêndio de todas as perfeições morais e divinas... “O mistério da Encarnação é o mistério do amor de Deus pelo homem, o mistério do amor de Deus, mas na realidade é o mistério do amor do homem a si próprio...” Esse dogma fundamental do cristianismo expressa, pois, o princípio supremo e último da filosofia, ou seja, a unidade do homem com o homem. Em consequência, e essa é a finalidade de toda a obra de Feuerbach, “o homem é o Deus do cristianismo, e a antropologia é o segredo da teologia cristã”.
Feuerbach considera essa humanização de Deus como a missão da Idade Moderna. A gênese de Deus a partir da projeção que o homem faz de si próprio e da sua essência produz neste a alienação, que expropria o homem de sua própria natureza ou substância de ser sensível e a coloca fora dele: em Deus. Ao mesmo tempo produz a servidão: submetimento e veneração a algo estranho erguido contra a realidade sensível e o homem. A verdade é que o homem é um “ser sensitivo” e seu ser abre-se e fecha-se em relação à natureza e à comunidade dos outros homens mediante o amor. Tal é a luta que deve empreender o homem moderno.
Sua importância histórica está ligada à influência decisiva e amplamente reconhecida que a sua obra exerceu na formação do materialismo dialético de Marx. De fato, o jovem Marx reconheceu que Feuerbach “fundou o verdadeiro materialismo e a ciência real, elaborando sua teoria”. Por isso, a obra de Feuerbach toma parte da “biblioteca dos clássicos” do marxismo.
A crítica ao cristianismo, tanto de protestantes quanto de católicos, não se fez esperar. Feuerbach reduzia a religião à filosofia e a teologia à antropologia. “O segredo da teologia está na antropologia” repete com frequência. Sua teoria da religião é puro sensualismo e materialismo, que não acrescenta nada às posições do ateísmo grego ou do Iluminismo francês do séc. XVIII. Todos reconhecem, no entanto, que faz uma análise brilhante do homem, que no plano tático “pode ser útil para a denúncia das falsificações do homem moderno”. A qualificação que mais se adapta ao seu pensamento é a de realismo humanista. E é inexato caracterizar o pensamento de Feuerbach unicamente como ateísmo.



43 - Filosofia de Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher



Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher nasceu em Breslau, 21 de novembro de 1768, morreu em Berlim, 12 de fevereiro de 1834. Foi pregador em Berlim na Igreja da Trindade e professor de Filosofia e Teologia em Halle. Traduziu as obras de Platão para o alemão. Foi influenciado por Kant e Fichte, mas não se tornou um idealista subjetivo. Schleiermacher foi contemporâneo de Johann Fichte, Friedrich Schelling, Friedrich Krause e Friedrich Hegel. Em 1797, em Berlim, conheceu Friedrich Schlegel e uniu-se ao círculo dos românticos. Posteriormente, ensinou Teologia em Halle e, a partir de 1810, em Berlim, é nomeado pregador da corte, depois professor de Teologia e Filosofia.
As obras que lhe deram maior notoriedade foram os “Discursos sobre Religião” (1799) e os “Monólogos” (1800). Em 1822, publicou a “Doutrina da fé”, que tem importância sobretudo em relação à teologia dogmática protestante. Entre 1804 e 1828, traduziu os diálogos de Platão. Postumamente, foram publicadas as aulas relativas à dialética, à ética e à estética, além de outros temas, dentre os quais revestem-se de particular importância a Hermenêutica, na qual se revela precursor.
As suas doutrinas exerceram grande influência na teologia protestante e foram estudadas, com a evolução do seu espírito, por Dilthey, que dividiu em quatro períodos a sua atividade literária: a juventude (manuscritos), período da intuição (1796-1802), época crítica (1802-1806), período sistemático (1806-1834). Ao contrário de Hegel, Schleiermacher não subordina a religião à Filosofia, porque o sentimento, como unidade originária de pensamento e querer, não é abolido pelo pensamento. O sentimento da imortalidade e da fé na imortalidade fundam-se na “imortalidade da união da essência de Deus com a natureza humana na pessoa de Cristo”.
A religião não aspira a conhecer e explicar o universo em sua natureza, como a metafísica, nem aspira a continuar o seu desenvolvimento e aperfeiçoá-lo através da liberdade e da vontade divina do homem, como a moral. A sua essência não está no pensamento nem na ação, e sim na intuição e no sentimento. Ela aspira a intuir o Universo; quer ficar contemplando-o piedosamente em suas manifestações e ações originais; quer fazer-se penetrar e preencher por suas influências imediatas, com passividade infantil.
A ação do infinito sobre o homem, portanto, é a intuição. E o sentimento é a resposta do sujeito: é o estado de espírito, ou seja, a reação da consciência. Este sentimento que acompanha a intuição do infinito é sentimento de total dependência do sujeito em relação ao infinito. O sentimento religioso, portanto, é sentimento de total dependência do homem (finito) em relação à Totalidade (infinita).
Essa ideia básica vale, como diz Schleiermacher, para todas as formas de religião. Mas, com o passar dos anos, ele também acabou por privilegiar o cristianismo. Cristo passou a aparecer-lhe sempre mais como o Mediador e o Redentor e, portanto, acabou por assumir aos seus olhos aquelas características divinas que ele negara inicialmente.
Na sua “A fé Cristã” (1821-1822), Schleiermacher faz uma formulação sistemática da cristologia, segundo a qual Jesus é a imagem originária do que o homem é antes da queda. Dessa forma, por ser todo o seu pensamento profundamente cristocêntrico, Schleiermacher afirma que o cristão tem consciência de depender de algo superior, sobrenatural, derivando-se daí sua consciência ética, uma vez que tudo está subordinado àquela sensação religiosa, que, enfraquecendo-se, gera o pecado, fortalecendo-se, gera a graça. Para ele o cristão pergunta a si mesmo continuamente: o que deve ser, à luz da consciência cristã? Assim, ele harmonizou as concepções do protestantismo com as convicções da burguesia culta e liberal. Foi considerado radical pelos ortodoxos e visionário pelos racionalistas, mas influenciou, mais do que qualquer outro teólogo, o pensamento protestante do século XIX.

Schleiermacher, dentre outros, concebe Deus, para além do naturalismo e do sobrenaturalismo, como o “ser-em-se”, como “o fundamento criador de tudo que existe”, como “a potência incondicionada e infinita do ser”. Entretanto, para o naturalismo Deus está no mundo e, por outro lado, para o sobrenaturalismo Deus está acima do mundo.


42 - Vida e Obra de Sigmund Freud

Freud (1856-1939), neurologista austríaco, fundador da psicanálise. As teorias freudianas tiveram um grande impacto na psicologia, na psiquiatria e em outros campos. Além disso, Freud levou suas conclusões psicanalíticas ao campo mitológico e cultural, assim como aos fenômenos antropológicos e religiosos.
Reconhecido como um dos “filósofos da suspeita”, junto a Marx e Nietzsche, suas teorias têm sido uma verdadeira revolução na interpretação do comportamento do homem. Freud ingressou na Universidade de Viena em 1873, para passar ao hospital geral da universidade em 1882. Em 1885, mudou-se para Paris a fim de estudar, ao lado de Charcot, os fenômenos da histeria. De volta a Viena, colaborou com Breuer em seus primeiros estudos sobre a histeria (1895), em que já aparecem as linhas do método psicanalítico. Foi evoluindo para o estudo dos planos mais profundos da mente: o inconsciente. Passou depois ao estudo das neuroses. Em 1899, publicou A interpretação dos sonhos, em que analisa os complexos processos simbólicos subjacentes à formação dos sonhos. Em 1905 apareceu sua controvertida obra Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, que apresenta seus descobrimentos relativos à sexualidade infantil, assim como as etapas do complicado desenvolvimento sexual, no qual inclui a formação do complexo de Édipo. Seguiram-se muitas outras obras famosas como
Tótem e Tabu (1913); O mal-estar na civilização (1930), Moisés e o monoteísmo (1939), em que projeta suas teorias e inquietações religiosas. E outras como O ego e o id (1923) e Lições de introdução à psicanálise (1932), em que aparece sua interpretação definitiva do inconsciente: Id, ego, superego.
Da teoria da personalidade e do inconsciente, Freud elaborou uma interpretação da religião, cujos pontos assim se resumem:
a) A representação edípica do pai é para Freud a base da crença num Deus que clama culto e obediência e que castiga o pecado.
b) Na base da religião, de toda atitude religiosa, está o temor às forças da natureza, das quais depende o homem para sobreviver e às quais não pode controlar. E, junto ao temor, a frustração do instinto que impõe ao indivíduo a vida em companhia dos demais. “Dá-se então – diz - uma resposta coletiva, e tanto as representações fantásticas individuais quanto a conduta neurótica confundem-se com a fantasia coletiva e com o ritual religioso.”
c) A religião, portanto, é consequência dos instintos falidos do amor e segurança que o homem não encontra no seio da sociedade. Conclui-se, então, que as classes sociais mais baixas experimentam uma necessidade maior de religião porque sofrem uma maior frustração nos seus instintos do que as classes dirigentes.
d) Nessas condições, a religião serve para frear o instinto de rebeldia das massas ou, no mínimo, de sua exigência de uma igualdade de oportunidades para satisfazer seus desejos. “Enquanto as classes dirigentes desfrutam não somente de um nível real de satisfação desses desejos, senão também de uma satisfação vicária através da arte e da literatura, as massas, sem acesso a eles, necessitam de representações fantásticas compensatórias de caráter religioso.”
Desses princípios, Freud tira a conclusão de que a ética sancionada pela religião, através do superego justiceiro, impõe aos instintos humanos mais restrições que as devidas para manter a ordem e a paz na sociedade. Mesmo assim, a ciência proporciona uma sensação de controle e segurança diante das ameaças dos desastres naturais. Nesta situação, as crenças religiosas perdem intensidade. Quanto mais ciência, maior segurança, maior flexibilidade social e menos religião.




41 - Vida e Obra de Paulo Freire



Paulo Reglus Neves Freire, filho de Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, nasceu em 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco. Quando estava com 10 anos de idade, e a família com dificuldades econômicas, mudou para a cidade de Jaboatão. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensina a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família.
Em Jaboatão concluiu a escola primária. Em seguida, fez o primeiro ano ginasial no Colégio 14 de Julho. Após este primeiro ano de estudos secundários sob a tutela do professor de matemática Luiz Soares e da insistência de sua mãe junto aos diretores do Colégio Oswaldo Cruz, ingressou neste, também em Recife. Neste educandário, completou os sete anos dos estudos secundários - cursos fundamental e pré-jurídico - ingressando, aos 22 anos de idade, na Faculdade de Direito do Recife. Fez esta “opção” por ser a que se oferecia dentro da área de ciências humanas. Na época, não havia em Pernambuco curso superior de formação de educador.
Em seu primeiro caso como advogado, no qual deveria retirar a cadeira odontológica de um recém dentista, retirando assim a possibilidade de sustento deste, desistiu do caso e, consequentemente, da profissão. Preferiu trabalhar como professor.
Antes ainda da conclusão de seus estudos universitários, casou-se, em 1944, com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos: Maria Madalena, Maria Cristina, Maria de Fátima, Joaquim e Lutgardes. Ainda nesse tempo, tornou-se professor de língua portuguesa do Colégio Oswaldo Cruz, educandário que o tinha acolhido na adolescência.
Após a experiência de docência no mesmo estabelecimento de ensino em que havia estudado, foi ser diretor do setor de Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria (SESI), órgão recém-criado pela Confederação Nacional da Indústria através de um acordo com o governo Vargas. Aí teve contato com a educação de adultos/trabalhadores e sentiu o quanto eles e a nação precisavam enfrentar a questão da educação e mais particularmente, da alfabetização. Freire ocupou o cargo de Diretor desse setor do SESI de 1947 a 1954 e foi Superintendente do mesmo de 1954 a 1957.
Sua filosofia educacional expressou-se primeiramente em 1958 na sua tese de concurso para a universidade do Recife, e, mais tarde, como professor de História e Filosofia da Educação daquela Universidade, bem como em suas primeiras experiências de alfabetização como a de Angicos, Rio Grande do Norte, em 1963.
A coragem de pôr em prática um autêntico trabalho de educação que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, capacitando o oprimido tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação fez dele um dos primeiros brasileiros a serem exilados.
A metodologia por ele desenvolvida foi muito utilizada no Brasil em campanhas de alfabetização e, por isso, ele foi acusado de subverter a ordem instituída, sendo preso após o Golpe Militar de 1964. Depois de 72 dias de reclusão, foi convencido a deixar o país.
Tendo partido de São Paulo, sob a guarda e proteção do próprio Embaixador da Bolívia, para esse país vizinho, que o acolheu generosamente, sentiu em La Paz sua saúde abalada devido à localização alta desta cidade que fica no cume das montanhas dos Andes. Mas foi o Golpe de Estado na Bolívia, ocorrido pouco tempo depois de sua chegada, que o levou ao Chile.
Em Santiago, ao lado de sua família, iniciou, como tantos outros brasileiros que no Chile tiveram asilo político, uma nova etapa de sua vida e de sua obra. Neste país viveu de novembro de 1964 a abril de 1969, trabalhando como assessor do Instituto de Desarollo Agropecuário e do Ministério da Educação do Chile e como consultor da UNESCO junto ao Instituto de Capacitación e Investigación en Reforma Agrária do Chile. Nessa ocasião foi convidado também para lecionar nos Estados Unidos e trabalhar no Conselho Mundial das Igrejas. Atendeu aos dois convites.
Foi no exílio no Chile que escreveu a sua principal obra: Pedagogia do oprimido.
Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard, em estreita colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os 10 anos seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional junto a vários governos do Terceiro Mundo, principalmente na África.
Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil para “reaprender” seu país. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, tornou-se Secretário de Educação no Município de São Paulo, maior cidade do Brasil, durante a gestão da Prefeita Luiza Erundina. Durante seu mandato, fez um grande esforço na implementação de movimentos de alfabetização, de revisão curricular e empenhou-se na recuperação salarial dos professores.
Foi reconhecido mundialmente pela sua práxis educativa através de numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por muitas instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior e lhe foi outorgado o título de Doutor Honoris Causa por vinte e sete universidades.
Paulo Freire é autor de muitas obras, entre elas: “Educação como prática da liberdade” (1967), “Pedagogia do oprimido” (1968), “Cartas à Guiné-Bissau” (1975), “Pedagogia da esperança” (1992) e “À sombra desta mangueira” (1995). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa”.
Após a morte de sua primeira esposa, casou-se com Ana Maria Araújo Freire, uma ex-aluna. Conviveu e partilhou estudos e escritos com ela até os últimos dias de sua vida, em 2 de maio de 1997, em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.




40 - Filosofia de André Comte-Sponville


André Comte-Sponville (Paris, 12 de março de 1952), filósofo materialista francês. Ex-aluno da École normale supérieure da rue d’Ulm, foi amigo de Louis Althusser.
Desde 2008 é membro do Comitê Consultivo Nacional de Ética do seu país.
Comte-Sponville utiliza o referencial de Jean Paul Sartre, que já havia dito que “todos somos responsáveis por todos” e de Dostoievsky, “somos todos responsáveis por tudo, diante de todos”.
Em sua obra “O capitalismo é moral?”, que é a transcrição de uma conferência, tenta demonstrar a amoralidade do capitalismo, já que como técnica, a economia é exterior a toda preocupação moral. Comte-Sponville define então quatro ordens, no sentido pascaliano do termo :
1.                     ordem econômico-tecno-científica
2.                     ordem político-jurídica
3.                     ordem da moral
4.                     ordem da ética ou ordem do amor
Considera a possibilidade de existência de uma quinta ordem, a ordem do divino, mas, sendo ateu, pensa que seja dispensável. Mas ele acredita na possibilidade e na necessidade de uma espiritualidade ainda no ateismo. De fato, Comte-Sponville encontra no ateísmo uma fonte mais legítima da Ética, da adoção de valores humanos já não apesar de não acreditar na existência do divino, senão justamente por ser o humano possuidor de consciência e de valores que não dependem da fé em divindade nenhuma.




39 - Vida e Obra de Claude Lévi-Strauss



Claude Lévi-Strauss (Bruxelas, 28 de novembro de 1908 - Paris, 30 de outubro de 2009) foi um antropólogo, professor e filósofo francês. É considerado fundador da antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX.
Professor honorário do Collège de France, ali ocupou a cátedra de antropologia social de 1959 a 1982. Foi também membro da Academia Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de idade.
Desde seus primeiros trabalhos sobre os povos indígenas do Brasil, que estudou em campo, no período de 1935 a 1939, e a publicação de sua tese As estruturas elementares do parentesco, em 1949, publicou uma extensa obra, reconhecida internacionalmente.
Dedicou uma tetralogia, as Mitológicas, ao estudo dos mitos, mas publicou também obras que escapam do enquadramento estrito dos estudos acadêmicos - dentre as quais o famoso “Tristes Trópicos”, publicado em 1955, que o tornou conhecido e apreciado por um vasto círculo de leitores.
Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas, de uma família judia de origem alsaciana, das cercanias de Estrasburgo.
Depois de concluir a escola primária em Versalhes, instala-se em Paris para prosseguir seus estudos secundários - primeiro no tradicional Lycée Janson-de-Sailly e depois no Lycée Condorcet, um dos melhores colégios de Paris.
Estudou direito na Faculdade de Direito de Paris, obtendo sua licença antes de ser admitido na Sorbonne, onde se graduou em filosofia em 1931, com doutorado em 1948, com a tese “As estruturas elementares do parentesco”.
Depois de passar dois anos ensinando filosofia no Liceu Victor-Duruy de Mont-de-Marsan e no liceu de Laon, o diretor da Escola Normal Superior de Paris, Célestin Bouglé, por telefone, convida-o a integrar a missão universitária francesa no Brasil, como professor de sociologia da Universidade de São Paulo. Esse telefonema seria decisivo para o despertar da vocação etnográfica de Lévi-Strauss, conforme ele próprio iria declarar mais tarde: “Minha carreira foi decidida num domingo de outono de 1934, às 9 horas da manhã, a partir de um telefonema.”
Entre 1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo, juntamente com os professores integrantes da missão francesa, entre eles: sua mulher Dinah Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Jean Maugüé e Pierre Monbeig. Junto com Dina, Strauss também excursionou por regiões centrais do Brasil, como Goiás, Mato Grosso e Paraná. Publicou o registro dessas expedições no livro “Tristes Trópicos” (1955), neste livro ele conta inclusive como sua vocação de antropólogo nasceu nessas viagens.
Em uma de suas primeiras viagens, no norte do Paraná, teve seu esperado primeiro contato com os índios, no Rio Tibagi, porém ficou decepcionado ao supor, sem muito conhecimento etnográfico, que “os índios do Tibagi (caingangues) não eram nem verdadeiros índios, nem selvagens”.
Porém, ao final do primeiro ano escolar (1935/1936), ao visitar os cadiuéus na fronteira com o Paraguai e os bororos no centro de Mato Grosso, rendendo-lhe sua primeira exposição em Paris nas férias de (1936/1937), o que foi fundamental para a entrada de Lévi-Strauss no meio etnológico francês, conforme admite ele próprio: “Eu precisava fazer minhas provas de etnologia, porque não tinha formação alguma. Graças à expedição de 1936, consegui créditos do Museu do Homem e da Pesquisa Científica, ou do que acabaria se chamando assim. Com esse dinheiro, organizei a expedição nambiquara.”
A missão também visitou os últimos homens e mulheres Tupi-Kaguahib no Rio Machado, hoje considerados desaparecidos.
O período que passou no Brasil foi fundamental em sua carreira e no seu crescimento profissional, além de ter despertado em Strauss sua vocação etnológica. Disse: “Um ano depois da visita aos Bororos, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas” (1957).
Após três anos no Brasil, Lévi-Strauss voltou à França, reconhecido no meio etnológico. Diz ele, em Tristes Trópicos: “Um ano depois da visita aos Bororo, todas as condições para fazer de mim um etnógrafo estavam satisfeitas.”
Seu livro “As estruturas elementares do parentesco” foi publicado em 1949 e, instantaneamente, consagrou-se como um dos mais importantes estudos de família já publicados. O título é uma paráfrase ao título do livro de Émile Durkheim, “As formas elementares da vida religiosa”.
Em 1959 Lévi-Strauss foi nomeado para a cadeira de antropologia social do Collège de France. Por volta desse período publicou “Antropologia estrutural”, uma coleção de ensaios em que oferece tanto exemplos como manifestos programáticos do estruturalismo. Começou a organizar uma série de instituições e confrontos entre as visões existencialista e estruturalista que iria eventualmente inspirar autores como Clastres e Bourdieu. Foi também eleito doutor honoris causa de diversas universidades pelo mundo.
Claude Lévi-Strauss morreu em 30 de outubro de 2009, poucas semanas antes da data em que faria 101 anos.




38 - Vida e Obra de Jacques-Marie Émile Lacan



Jacques-Marie Émile Lacan (Paris, 13 de abril de 1901 - Paris, 9 de setembro de 1981) foi um psicanalista francês.
Formado em Medicina, passou da neurologia à psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian de Clérambault. Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e a partir de 1951, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado, propõe um retorno a Freud. Para isso, utiliza-se da linguística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo.
Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário), sob a direção de seu genro, Jacques-Alain Miller.
Sua primeira intervenção na psicanálise é para situar o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos como amor e ódio. É o lugar das identificações e das relações duais. Distingue-se do Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma, então, a divisão do sujeito, pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao Eu. E é no registro do Inconsciente que deveríamos situar a ação da psicanálise.
No Brasil, um dos principais pioneiros da psicanálise lacaniana é MD Magno, fundador do Colégio Freudiano do Rio de Janeiro, em 1975, bem como Célio Garcia, um dos primeiros a introduzir o pensamento de Lacan na Universidade, em Minas Gerais. O trabalho de Lacan exerce forte influência nos rumos do tratamento psíquico, inclusive na definição de políticas de saúde mental, especialmente no Brasil.




37 - Vida e Obra de Mircea Eliade



Mircea Eliade (Romenia 24 de fevereiro de 1907 - Chicago, 22 de abril de 1986) foi um professor, historiador das religiões, mitólogo, filósofo e romancista romeno, naturalizado norte-americano em 1970.
Falava e escrevia fluentemente oito línguas (romeno, francês, alemão, italiano, inglês, hebraico, persa e sânscrito), mas a maior parte dos seus trabalhos acadêmicos foi escrita inicialmente em romeno (depois em francês e em inglês). É um dos mais influentes historiadores e filósofos das religiões da contemporaneidade.
Considerado um dos fundadores do moderno estudo da história das religiões e grande estudioso dos mitos, elaborou uma visão comparada das religiões, encontrando relações de proximidade entre diferentes culturas e momentos históricos. No centro da experiência religiosa do Homem, Eliade situa a noção do Sagrado. Sua formação de historiador e filósofo levou-o ao estudo dos mitos, dos sonhos, das visões, do misticismo e do êxtase. Na Índia, estudou ioga e leu, diretamente em sânscrito, textos clássicos do hinduísmo que ainda não tinham sido traduzidos para as línguas ocidentais.
Autor prolífico, procurou encontrar uma síntese dos temas que abordou. Nos seus escritos, é, frequentemente, destacado o conceito de hierofania, através do qual Eliade definiu a manifestação do transcendente em um objeto ou um fenômeno do cosmo.
O grande interesse em religiões comparadas, filosofia e filologia levou-o, em 1925, a iniciar estudos na Universidade de Bucareste, formando-se em filosofia. Sua tese de mestrado examinava a filosofia na Renascença italiana, de Marsilio Ficino a Giordano Bruno. O interesse sobre o humanismo renascentista foi o maior estímulo para que seguisse para a Índia, a fim de “universalizar” a filosofia “provinciana” herdada de sua educação europeia.
A documentação recolhida na Índia, especialmente a respeito do ioga, tornar-se-ia a base de sua tese de doutoramento. Em 1932, Eliade tornou-se professor da faculdade de letras da Universidade de Bucareste. Como assistente de Ionescu, Eliade ensinou a Metafísica de Aristóteles e a Docta Ignorantia, de Nicolau de Cusa.
Posteriormente, estabeleceu-se em Paris e, finalmente, em Chicago. Visitado por Joachim Wach, seu predecessor na Universidade de Chicago, um comparativista e hermeneuticista, Eliade foi convidado, em 1956, para dar aulas naquela universidade, sobre “Tipos de Iniciação”. Nessa época, foi publicado “Nascimento e Renascimento”. Em 1958, foi convidado para chefiar o Departamento de Religião da Universidade, cargo que ocupou até a morte em 1986.
Além de ter escrito obras científicas tão importantes e centrais como “O sagrado e o profano”, Eliade publicou uma extensa obra literária de ficção, cuja qualidade é universalmente reconhecida. Porém, por ter sido escrita inicialmente em romeno, tardou a ser divulgada. Também lançou “O jornal da História das Religiões” e o “Jornal das Religiões” e atuou como editor-chefe para a Enciclopédia Macmillan de Religiões.
Eliade recebeu o título de Doctor Honoris Causa de numerosas universidades de todo o mundo. Premiado em 1977 pela Academia Francesa, recebeu a Legião de Honra da França.



36 - A Filosofia de Karl Popper


Karl Raimund Popper (Viena, 28 de Julho de 1902 - Londres, 17 de Setembro de 1994) foi um filósofo da ciência austríaco naturalizado britânico. É considerado por muitos como o filósofo mais influente do século XX a tematizar a ciência. Foi também um filósofo social e político de estatura considerável, um grande defensor da democracia liberal e um oponente implacável do totalitarismo.
Ele é talvez mais bem conhecido pela sua defesa do falsificacionismo como um critério da demarcação entre a ciência e a não-ciência, e pela sua defesa da sociedade aberta.
Nascido numa família de classe alta de origem judaica secularizada, foi educado na Universidade de Viena. Concluiu o doutoramento em filosofia em 1928 e ensinou numa escola secundária entre 1930 e 1936. Em 1937, a ascensão do Nazismo levou-o a emigrar para a Nova Zelândia, onde foi professor de filosofia em Canterbury University College, Christchurch. Em 1946, foi viver na Inglaterra, tornando-se assistente de lógica e de método científico na London School of Economics, onde foi nomeado professor em 1949. Foi nomeado cavaleiro da Rainha Isabel II em 1965, e eleito para a Royal Society em 1976. Reformou-se da vida académica em 1969, apesar de ter permanecido ativo intelectualmente até à sua morte, em 1994.
Popper cunhou o termo “Racionalismo Crítico” para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionalismo-indutivista da ciência, que disso resulta. Apesar disso, alguns académicos, incluindo Ernest Gellner, defendem que Popper, não obstante não se ter visto como um positivista, se encontra claramente mais próximo desta via do que da tradição metafísica ou dedutiva.
Popper argumentou que a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efetuada com base naquela teoria se verificaram. Essa teoria deverá gozar apenas do estatuto de uma teoria não (ou ainda não) contrariada pelos fatos.
O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade da teoria em análise. Nesse caso há que eliminar essa teoria que se provou falsa e procurar uma outra teoria para explicar o fenómeno em análise. Em outras palavras, uma teoria científica pode ser falsificada por uma única observação negativa, mas nenhuma quantidade de observações positivas poderá garantir que a veracidade de uma teoria científica seja eterna e imutável.
Alguns consideram este aspecto fulcral para a definição da ciência, chegando a afirmar que “científico” é apenas aquilo que se sujeita a este confronto com os factos. Ou seja: afirmam que só é científica aquela teoria que possa ser falseável (refutável). Existem críticas contundentes quanto a esse aspecto. Essas remanescem no bojo da própria Filosofia que Popper propõe. E por quê? Ao afirmar que toda e qualquer teoria deve ser falseável, isso se aplica à própria teoria da falseabilidade popperiana. Portanto, a falseabilidade deve ser falseável em si mesma. Diante dessa evidente necessidade - sob a pena de sua teoria ser não-universal e portanto derrogada pela sua imprecisão - poderá existir proposições em que a falseabilidade não é aplicável.
Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentativas.





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