Se o homem no estado de
natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua própria
pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão
dessa liberdade, por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e
controle de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, embora no
estado de natureza tenha tal direito, a fruição do mesmo é muito incerta e está
constantemente igual a ele, e na maior parte pouco observadores da equidade e
da justiça, a fruição da propriedade que possui nesse estado é muito insegura,
muito arriscada. Estas circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que,
embora livre, está cheia de temores e perigos constantes; e não é sem razão que
procura de boa vontade justar-se em sociedade com outros que estão já unidos,
ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bens
a que chamo de “propriedade”.
LOCKE,
JOHN. Segundo tratado sobre o Governo.
Trad. de Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro: Abril Cultural, 1978, p. 82. (Coleção
“Os Pensadores”).
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