Enquanto os filósofos não
forem reis nas cidades, ou os que hoje chamamos reis e soberanos não forem
verdadeira e seriamente filósofos; enquanto o poder político e a filosofia não
se encontrarem no mesmo sujeito; enquanto as numerosas naturezas que perseguem
atualmente um ou outro destes fins de maneira exclusiva não forem reduzidas à
impossibilidade de proceder assim, não haverá termo, meu caro Glauco, para os
males da cidade, nem, parece-me, para os do gênero humano, e jamais a cidade
que há pouco descrevemos será realizada, tanto quanto possa sê-lo, e verá a luz
do dia.
Eis o que eu vacilei
muito tempo em dizer, prevendo o quanto estas palavras chocariam a opinião
comum, pois é difícil conceber que não haja de outro modo felicidade possível,
para o Estado e para os particulares. Então disse Glauco: Após proferir semelhante
discurso, esperas, por certo, Sócrates, ver muita gente, e não sem valor,
arrancar, por assim dizer, os trajes, e nus, agarrando a primeira arma ao seu
alcance, precipitar-se sobre ti com todas as forças, no intuito de praticar
maravilhas. Se não os rechaçares com as armas da razão, e se não lhes
escapares, aprenderás à tua própria custa o que significa escarnecer.
PLATÃO.
A República. Trad. J. Guinsburg. São
Paulo: Editora Difel, 1965, vol. II, p. 45-46.
Nenhum comentário:
Postar um comentário