O Estado, ou sociedade
política, é até mesmo o primeiro objeto a que se propôs a natureza. O todo
existe necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos
não são senão as partes integrantes da cidade. Todas subordinadas ao corpo
inteiro. Todas distintas por seus poderes e suas funções, e todas inúteis
quando desarticuladas, semelhantes às mãos e aos pés que, uma vez separados do
corpo, só conservam o nome e a aparência, sem a realidade como uma mão de
pedra. O mesmo ocorre com os membros da cidade: nenhum pode bastar-se a si
mesmo. Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a
ficar com eles ou é um deus, ou um bruto. Assim, a inclinação natural leva os
homens a esse gênero de sociedade. O primeiro que a instituiu trouxe-lhe o
maior dos bens. Mas, assim como o homem civilizado é o melhor de todos os
animais, aquele que não conhece nem justiça nem leis é o pior de todos. Não há
nada, sobretudo, de mais intolerável do que a injustiça armada. Por si mesmas,
as armas e a força são indiferentes ao bem e ao mal: é o princípio motor que
qualifica o seu uso. Servir-se delas sem nenhum direito e unicamente para
saciar suas paixões rapaces ou lúbricas é atrocidade e perfídia. Seu uso só é
lícito para a justiça. O discernimento e o respeito ao direito forma a base da
vida social e os juízes são seus primeiros órgãos.
ARISTÓTELES.
A Política. Trad. Roberto Leal
Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 5-6.
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