Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher nasceu em Breslau, 21 de novembro de
1768, morreu em Berlim, 12 de fevereiro de 1834. Foi pregador em Berlim na
Igreja da Trindade e professor de Filosofia e Teologia em Halle. Traduziu as
obras de Platão para o alemão. Foi influenciado por Kant e Fichte, mas não se
tornou um idealista subjetivo. Schleiermacher foi contemporâneo de
Johann Fichte, Friedrich Schelling, Friedrich Krause e Friedrich Hegel. Em 1797, em Berlim, conheceu
Friedrich Schlegel e uniu-se ao círculo dos românticos. Posteriormente, ensinou
Teologia em Halle e, a partir de 1810, em Berlim, é nomeado pregador da corte,
depois professor de Teologia e Filosofia.
As obras que lhe deram maior
notoriedade foram os “Discursos sobre Religião” (1799) e os “Monólogos” (1800).
Em 1822, publicou a “Doutrina da fé”, que tem importância sobretudo em relação
à teologia dogmática protestante. Entre 1804 e 1828, traduziu os diálogos de
Platão. Postumamente, foram publicadas as aulas relativas à dialética, à ética
e à estética, além de outros temas, dentre os quais revestem-se de particular
importância a Hermenêutica, na qual se revela precursor.
As suas doutrinas exerceram grande
influência na teologia protestante e foram estudadas, com a evolução do seu
espírito, por Dilthey, que dividiu em quatro períodos a sua atividade
literária: a juventude (manuscritos), período da intuição (1796-1802), época
crítica (1802-1806), período sistemático (1806-1834). Ao contrário de Hegel,
Schleiermacher não subordina a religião à Filosofia, porque o sentimento, como
unidade originária de pensamento e querer, não é abolido pelo pensamento. O
sentimento da imortalidade e da fé na imortalidade fundam-se na “imortalidade
da união da essência de Deus com a natureza humana na pessoa de Cristo”.
A religião não aspira a conhecer e
explicar o universo em sua natureza, como a metafísica, nem aspira a continuar
o seu desenvolvimento e aperfeiçoá-lo através da liberdade e da vontade divina
do homem, como a moral. A sua essência não está no pensamento nem na ação, e
sim na intuição e no sentimento. Ela aspira a intuir o Universo; quer ficar
contemplando-o piedosamente em suas manifestações e ações originais; quer
fazer-se penetrar e preencher por suas influências imediatas, com passividade
infantil.
A ação do infinito sobre o homem,
portanto, é a intuição. E o sentimento é a resposta do sujeito: é o estado de
espírito, ou seja, a reação da consciência. Este sentimento que acompanha a
intuição do infinito é sentimento de total dependência do sujeito em relação ao
infinito. O sentimento religioso, portanto, é sentimento de total dependência
do homem (finito) em relação à Totalidade (infinita).
Essa ideia básica vale, como diz
Schleiermacher, para todas as formas de religião. Mas, com o passar dos anos,
ele também acabou por privilegiar o cristianismo. Cristo passou a aparecer-lhe
sempre mais como o Mediador e o Redentor e, portanto, acabou por assumir aos
seus olhos aquelas características divinas que ele negara inicialmente.
Na sua “A fé Cristã” (1821-1822),
Schleiermacher faz uma formulação sistemática da cristologia, segundo a qual
Jesus é a imagem originária do que o homem é antes da queda. Dessa forma, por
ser todo o seu pensamento profundamente cristocêntrico, Schleiermacher afirma
que o cristão tem consciência de depender de algo superior, sobrenatural,
derivando-se daí sua consciência ética, uma vez que tudo está subordinado
àquela sensação religiosa, que, enfraquecendo-se, gera o pecado,
fortalecendo-se, gera a graça. Para ele o cristão pergunta a si mesmo continuamente:
o que deve ser, à luz da consciência cristã? Assim, ele harmonizou as
concepções do protestantismo com as convicções da burguesia culta e liberal.
Foi considerado radical pelos ortodoxos e visionário pelos racionalistas, mas
influenciou, mais do que qualquer outro teólogo, o pensamento protestante do
século XIX.
Schleiermacher, dentre outros,
concebe Deus, para além do naturalismo e do sobrenaturalismo, como o “ser-em-se”,
como “o fundamento criador de tudo que existe”, como “a potência incondicionada
e infinita do ser”. Entretanto, para o naturalismo Deus está no mundo e, por
outro lado, para o sobrenaturalismo Deus está acima do mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário